Ciganos lutam em defesa dos direitos de ir e vir

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“Ainda falta muito para sermos iguais perante a lei” Wanzelon

De acordo com o presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana de Roraima e representante dos ciganos na região norte, Calon, Rogério Wanzelon, que qualificou com uma “praga maldita” = preconceito e a discriminação. “Temos que fixar nas pessoas o respeito: com as crianças, os idosos, o meio ambiente, os ciganos, os Índios enfim e a intolerância religiosa. O que eu vejo é um fanatismo cruel que muitas das vezes gera morte de muitas pessoas por conta da simples e tosca convicção de que o bem sagrado é privilégio de uma única religião”. Ele considera inadmissível que uma crença demonize as demais. “O direito de criticar encaminhamentos e dogmas dos Povos de comunidade tradicional e remanescentes, desde que isso seja feito sem desrespeito ou ódio, é assegurado pelas liberdades de opinião e expressão” explicou Wanzelon.

Tratamento igualitário

Muitas mudanças ocorreram até 1988, quando a Constituição federal passou a garantir o tratamento igualitário a todos os seres humanos, quaisquer que sejam suas crenças.

Poder público proíbe cigano a entra no município

Apontamos aqui, o caso dos povos ciganos que não dispõem de um instrumento jurídico nacional que lhes garanta acesso às escolas, educação de qualidade, saúde, etc., sobretudo, uma política que impeça a exposição à violência física dos povos ciganos a cada lugar que montam acampamento, como é o caso dos Calons. Em outros casos, o próprio poder público municipal dispõe de legislação que proíbe a entrada e o respectivo acampamento de ciganos Calons no município. O governo federal tem uma política específica para ciganos, mas o governo municipal não executa. O modo de vida dos povos ciganos requer do Estado brasileiro, na sua totalidade (União, Estado e Município) adoção de medidas legais que assegurem o pleno uso e ocupação do território, a exemplo, o Termo de Autorização de Uso – TAUS (Portaria MP 100, de 03/06/2009).

Violência física e moral

Destacamos aqui a violência física e moral que vem sofrendo os povos Indígenas, que além de terem seus territórios invadidos e com inúmeros empreendimentos sendo construídos, e a criminalização de suas lideranças, não tem tido a oportunidade de dialogar de forma respeitosa com o governo federal. Destacamos ainda o investimento midiático, violento contra os Povos e Comunidades de Terreiro tem gerado mortes, agressões físicas e morais, além de estimular na sociedade brasileira o ódio racial e religioso contra estas comunidades. Registramos também que a omissão do Estado Brasileiro e sua conivência em concessões publicas para rádios e Tvs, além do apoio financeiro as atividades ditas culturais do segmento GOSPEL ferem frontalmente o principio da laicidade do Estado.

O descaso

Atualmente, muitos dos nossos povos e comunidades tradicionais sofrem pelo total abandono do Estado em não dispor de uma política pública firme, não dispor de uma legislação apropriada que seja capaz de nos retirar da invisibilidade jurídica e nos tornar efetivamente sujeitos de direitos socais. Esta histórica omissão do Estado se transforma na maioria das vezes em discriminação por parte de outros segmentos da sociedade em relação a estes grupos. Soma-se a esta mazela social, a inexistência de um órgão no âmbito do Estado brasileiro o suficiente para promover a dignidade humana destes povos e comunidades tradicionais corroborando para a efetivação da legislação vigente referida aos Povos e Comunidades Tradicionais.

As propostas

  • Criar mecanismos para capacitar os ciganos, descendentes e simpatizantes, para o desenvolvimento de projetos auto-sustentáveis econômica e culturalmente, através de parcerias que visem à garantia dos direitos constitucionais dos Povos de Etnia Cigana;
  • Formação, ampliação e difusão da cultura Cigana em toda a Região Norte do pais;
  • Implementação dos interesses coletivos, morais e culturais dos povos Ciganos;
  • Defender a democracia, a independência e o respeito à liberdade sem distinção de raça, cor, sexo, nacionalidade, convicção política ou religiosa;
  • Coletar, registrar sistematizar e divulgar informações sobre a evolução das características, culturais, sociais, histórias e tradições do povo de etnia Cigana;
  • Criação de centros de referência culturais e cursos de formação e orientação;
  • Promover a abertura do Museu Cigano, que contará com sala de projeção para documentários e filmes com temas Ciganos, artesanatos, utensílios, telas, fotos e outras atividades.

 

GRUPO CALON

Os componentes deste grupo fixaram residência especialmente na Espanha e Portugal, onde sofreram severas perseguições, pois sendo estes países profundamente católicos e conservadores, não podiam admitir os costumes ciganos, tanto que foram proibidos de falar o seu idioma, usar suas vestes típicas e realizar festas e cerimônias segundo suas tradições. O que os ciganos sofreram na Península Ibérica, lembra de certa maneira o que os negros sofreram em terras do Brasil.

Os ataques da realeza ao grupo Calon foram tão rigorosos, que ele foi obrigado a criar um dialeto, mescla de seu próprio idioma com o português e o espanhol, em particular em Portugal, onde as proibições não foram verbais, mas determinadas por decreto do rei D. João V.

Apesar de todos os sofrimentos o Clã Calon sobrevive até os dias atuais, sendo um dos grupos que mais fielmente segue as tradições ciganas. Tem-se que os Calons originaram-se no antigo Egito.

 

SER CIGANO

Ser Cigano é respeitar a liberdade, a natureza e acima de tudo a vida

É viver e deixar viver

É ter a lucidez de saber esperar

É não esgotar todos os recursos

É preferir morrer com honra, do que viver desonrado

É ter como lema ser feliz

É agradecer as pequeninas coisas da vida

É dignificar seus velhos

É glorificar suas crianças

É respeitar os povos e as coisas que se desconhece

É nunca contestar a Justiça Divina

É acima de tudo amar e respeitar Deus e Seu filho

Jesus Cristo, nosso grande Mensageiro.

Rorarni / Mirian Stanescon

 

Autor/foto: Ascom ASCIRR – Associação de preservação da cultura cigana de Roraima.