Atriz Tônia Carrero é velada no Theatro Municipal do Rio

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Atriz morreu, aos 95 anos, de ataque cardíaco durante cirurgia. Diva e dama da dramaturgia brasileira participou de 54 peças, 19 filmes e 15 novelas.

O corpo da atriz Tônia Carrero, ícone da TV brasileira, começou a ser velado na tarde deste domingo (4/03) no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no Centro. O velório, programado para ter oito horas de duração, vai até as 22h . Cecil Thiré, filho único da atriz, chegou ao velório por volta das 15h. Também prestam as últimas homenagens, os netos, bisnetos e amigos da TV e do teatro.

O corpo chegou ao teatro por volta de 13h20. Antes da cerimônia ser aberta ao público, somente a família teve acesso ao interior do prédio. Os portões do prédio foram abertos por volta das 14h15 e um dos primeiros amigos a chegar foi o ator Ney Latorraca.

Vitor Thiré, bisneto de Tônia se despede no velório que acontece no Theatro Municipal do Rio (Foto: Matheus Rodrigues/G1)

“Ela não era só a atriz bonita, talentosa e amada. Qualquer movimento político que você procure, sempre tinha a Tônia à frente em todas as passeatas. Contra a ditadura, contra a censura. Por coincidência, esses dias achei uma foto que tem todas: Tônia Carrero, Silvia Becker, Odete Lara, Eva Vilma. Elas estavam aqui na frente para a ‘Passeata dos 100 mil’. Ela não é apenas uma grande atriz que a gente perde, a gente perde esse ser humano revolucionário e amado”, afirmou ao G1 o ator Ney Latorraca.

A neta Luisa Thiré disse que sua avó era uma pessoa a frente de seu tempo e que lutava por seus direitos. Segundo ela, Tônia Carrero brigou até com familiares para seguir no sonho de ser atriz.

Ator Ney Latorraca foi um dos primeiros a chegar no Theatro Municipal para prestar as últimas homenagens à Tônia Carrero (Foto: Matheus Rodrigues/G1 Rio)

“Ela é de uma geração pioneira, primeiríssima, ao lado de outras grandes damas como Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro. A gente aprendeu muito com ela, ela sempre foi muito presente, muito crítica, calorosa e carinhosa com a família. Acho que pro Brasil ela foi um exemplo de mulher batalhadora, que lutou pelos seus direitos, ela começou a fazer teatro numa época que era feio. O pai dela parou de falar com ela quando ela disse que queria ser atriz, queria dançar balé, o pai meio que morreu brigado com ela porque era feio. Ela brigou com tudo que apareceu pela frente e continuou brigando, lutando. Ela era muito ativa dos movimentos políticos, muito à frente do tempo, independente”, disse Luisa.

O neto Carlos Thiré disse que a avó foi uma guerreira até o final da vida.

“É difícil assumir que chegou o dia de me despedir da pessoa mais forte que eu já conheci na minha vida. Ela conseguiu fazer exatamente o que queria da vida dela, com isso ela deixou um rastro de luz enorme. (…) Ela era uma das pessoa mais livres com quem eu já tive contato, essa mensagem fica com uma força incrível. Eu acho que ela já tava merecendo descansar, ela esticou a corda até onde não dava mais. Mas hoje não é um dia de tristeza, hoje é um dia de saudade”, disse Carlos Thiré.

A atriz morreu de ataque cardíaco, pouco depois das 22h de sábado (3), durante uma cirurgia, numa clínica particular na Gávea, na Zona Sul. Ela tinha 95 anos e havia sido internada na véspera em decorrência de uma úlcera no sacro. Ela morreu durante procedimento médico, segundo informou a neta Luísa Thiré.

Tônia é a matriarca de uma família que tem quatro gerações de artistas: além do único filho, o ator Cécil Thiré, netos e bisnetos também seguiram a carreira. Ela é classificada pelo projeto Brasil Memória das Artes, da Funarte, como “diva e dama” e “referência de beleza, inteligência e talento na história do teatro brasileiro”.

Tônia Carrero participou de 54 peças, 19 filmes e 15 novelas ao longo de sua carreira. Sua última novela foi “Senhora do Destino” (2004), na qual fez uma participação especial. No cinema, sua última aparição foi em “Chega de Saudade” (2008).

Homenageada do Prêmio Shell de 2008, ela atuou no teatro pela última vez em 2007, em “Um Barco Para o Sonho”, peça produzida pelo filho Cécil e dirigida pelo neto Carlos Thiré.

Tônia começou na televisão na década de 60, a convite do autor Vicente Sesso, para fazer “Sangue do Meu Sangue” ao lado de Fernanda Montenegro e Francisco Cuoco. A novela do diretor Sérgio Britto foi exibida em 1969 pela TV Excelsior.

Um de seus personagens mais marcantes foi a sofisticada e encantadora Stella Fraga Simpson, em “Água Viva” (1980), de Gilberto Braga. Tônia viria a trabalhar novamente com o autor em 1983, na novela “Louco Amor”, desta vez interpretando Mouriel.

Autor: Da redação com Matheus Rodrigues, G1 Rio/ Foto: Matheus Rodrigues/G1/ Foto: Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo