Mark Zuckerberg depõe ao Senado sobre uso de dados pelo Facebook

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Presidente do Facebook respondeu questões sobre regulação, uso de dados de usuários e como empresa reagiu ao escândalo da Cambridge Analytica.

O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, participa de uma audiência no Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira (10/04) para prestar esclarecimento sobre o escândalo do uso inadvertido dos dados de 87 milhões de usuários pela consultoria política Cambridge Analytica e as formas como a rede social protege a privacidade em sua plataforma.

A audiência conjunta é realizada entre os comitês de Justiça e do Comércio, Ciência e Transportes, ambas do Senado dos EUA. Na quarta, será a vez da Câmara dos Deputados. Lá Zuckerberg falará diante do Comitê de Energia e Comércio.

“Nós temos a responsabilidade de não apenas construir ferramentas, mas assegurar que elas sejam usadas para o bem”, afirmou Zuckerberg.

A audiência de Zuckerberg provocou o maior burburinho no Senado desde as audições da Microsoft nos anos 1990. Dos 100 parlamentares que a Casa possui, 44 participam da sessão.

Em seu discurso de abertura, o CEO do Facebook afirmou que os dados coletados pelo desenvolvedor do teste que gerou todo o escândalo foram vendidos pela Cambridge Analytica. Essa é a primeira vez que a rede social admite ou assume isso.

No dia do depoimento, as ações do Facebook fecharam em alta de 4,5%, a maior em quatro anos.

Questionamentos de senadores

“Estamos aqui por uma quebra de confiança”, afirmou o senador John Thune, presidente da comissão de Comércio, Ciência e Transportes, em seus comentários iniciais. “Uma das razões para tantas pessoas estarem preocupadas com isso é porque isso diz sobre como o Facebook trabalha.”

Para ele, o “sonho americano” de Zuckerberg, ao criar o Facebook, pode se tornar um “pesadelo de privacidade” para americanos.

Durante a audiência Zuckerberg foi questionado sobre os seguintes temas:

Como o Facebook reagiu ao vazamento de dados pela Cambridge Analytica;

Como o Facebook usa os dados de seus usuários para ganhar dinheiro;

Como a rede social reage ao uso político da plataforma;

posição do Facebook sobre regulamentação de empresas de internet.

Ele também negou que o Facebook seja um monopólio. “Eu certamente não vejo dessa forma”, disse.

Caso Cambridge Analytica

Zuckerberg afirmou, na primeira etapa de seu depoimento, que a Cambridge Analytica não foi banida em 2015, quando o Facebook soube que a empresa britânica tinha dados de seus usuários, porque a consultoria política não usava nenhum dos serviços da rede social. “Não tínhamos do que bani-los.”

Após o recesso, ele corrigiu a informação. Ele disse que a empresa estava, sim, na plataforma na ocasião e não foi banida. “Foi um erro não ter banido”, disse.

Ele disse também que, quando soube que a Cambridge Analytica não havia deletado os dados de 87 milhões de usuários anos atrás, o Facebook não notificou os afetados porque “nós consideramos isso um caso encerrado”. E ainda respondeu que nenhuma pessoa da empresa foi processada devido ao escândalo.

Regulamentação

Zuckerberg foi questionado diversas vezes sobre regulamentação de empresas de internet e assumiu uma mudança de postura ao admitir a “regulamentação certa”. No passado, a rede social refutou iniciativas de regular o setor e de assumir responsabilidade pelo conteúdo postado na rede.

O líder do Facebook disse que a rede sociais poderia, inclusive, contribuir com algumas ideias sobre regulamentação.

Ele também foi questionado se apoiaria uma regra que exigiria que as empresas notifiquem os usuários sobre um vazamento de dados em até 72 horas. “Faz sentido pra mim”, respondeu Zuckerberg.

Zuckerberg foi questionado sobre quais dados coleta das pessoas e se os armazena. Ele classificou os dados de duas formas:

Informações que as pessoas escolhem compartilhar, como fotos e publicações

Dados que podem transformar os anúncios em algo mais assertivo

“Eu espero que o que fazemos com dados não seja surpreendente para pessoas”, disse Zuckerberg. “As pessoas podem escolher não compartilhar os dados”, ressaltou.

O senador Bill Nelson perguntou se a rede social estava pensando em cobrar de seus usuários para não ver propaganda.

Zuckerberg disse que obter recursos com anúncios da publicidade é a forma encontrada pela companhia para conectar bilhões de pessoas.

“Para não mostrar anúncio nenhum, nós ainda precisaríamos de um modelo de negócio”.

Ele também foi questionado se o Facebook informa os anunciantes sobre o conteúdo das mensagens trocadas no aplicativo Whatsapp, que pertence ao Facebook. “Não. O sistema do Facebook não vê o conteúdo das mensagens no Whatsapp. É criptografado. Então não informamos anunciantes” , disse.

Influência nas eleições

Zuckerberg comentou a tentativa de exploração do Facebook por agentes externos para desestabilizar eleições, como o que agências russas fizeram durante a corrida presidencial dos Estados Unidos em 2016.

“Isso é uma corrida armamentista”, afirmou Zuckerberg. Para tentar coibir a prática, a rede social está reforçando sua equipe. Hoje, são 15 mil pessoas trabalhando no time de segurança e espera ter 20 mil até o fim de 2018.

O que Zuckerberg não respondeu

O senador Chuck Grassley perguntou quantas vezes um app fez uma transferência de dados como a da Cambridge Analytica, mas Zuckerberg disse que a rede social conduz uma investigação, mas não respondeu.

Outra questão a que o executivo não respondeu foi a sobre quantas vezes o Facebook fez valer aos desenvolvedores suas políticas de uso. “Eu não saberia dizer quantas vezes isso aconteceu”

Escândalo de vazamento de dados

A ida de Zuckerberg ao Congresso dos EUA ocorre na esteira do escândalo da manipulação indevida de dados de 87 milhões de usuários pela Cambridge Analytica, consultoria política que trabalhou para Donald Trump durante a corrida eleitoral de 2016 e na campanha para a saída do Reino Unido do Brexit.

A forma como as informações foram obtidas pela empresa britânica colocou no centro da discussão o modelo de negócio do Facebook e de outras empresas de tecnologia, que coletam, processam e armazenam dados de seus usuários para segmentar a distribuição de anúncios.

A polêmica da Cambridge Analytica ocorre em um momento em que começou a intensificar a pressão para regulamentar a atuação de empresas de tecnologia que mantêm plataformas, em que pessoas depositam grande quantidade de conteúdo.

No fim de fevereiro, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma lei que mudou um dos grandes paradigmas legais em torno de companhias de internet: a responsabilização judicial delas em caso de ações ilícitas praticadas por usuários.

A nova legislação permite que sites e serviços conectados sejam levados à Justiça caso sejam usados para o tráfico sexual. Até então, as empresas não podiam ser processadas, mesmo que suas plataformas fossem uma porta aberta para escravidão sexual ou tráfico de seres humanos. Os responsáveis por promover esses conteúdos é que deveriam ser processados.

Autor: Da redação com Helton Gomes Simões, G1/Foto: Reuters/Leah Millis/Win Mcnamee/Pool.