Deputado que tatuou ‘Temer’ recebeu R$ 6,6 milhões para emendas em dois meses deste ano, diz ONG
Partido recorre a Conselho de Ética para acusar parlamentar de assediar jornalista. O PSB protocolou às 12h55m desta quarta-feira uma representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados contra o deputado federal Wladimir Costa (SD-PA) por assédio à jornalista Basília Rodrigues, da rádio CBN. A assessoria do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos artífices da ação contra o colega, confirmou o registro.
Wladimir é acusado de assediar uma jornalista que o questionou sobre a tatuagem que ele disse ter feito em homenagem ao presidente Michel Temer. Em meio às dúvidas sobre a tatuagem, definitiva ou temporária, Brasília perguntou ao deputado se ele poderia mostrar o desenho no ombro. “Para você só (mostro) se for o corpo inteiro”, rebateu o deputado. O episódio ocorreu na véspera da votação de denúncia contra Temer no plenário da Câmara, durante o jantar entre o presidente e parlamentares.
O documento já foi enviado ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados e deve ser apreciado em até três sessões ordinárias.
O texto relata o ocorrido e define a atitude de Wladimir Costa como “inapropriada, impertinente, desrespeitosa e fora do que se espera de um mandatário do povo” e que a postura dele atentou contra a dignidade e honra pessoal da jornalista. O partido argumenta que a conduta de Wladimir, adjetivada de “jocosa” e “machista”, fez com que a imagem da Câmara dos Deputados como instituição fosse deteriorada e exposta. A representação pede que as atitudes do parlamentar sejam julgadas e punidas com as sanções previstas em lei.
Além de assédio, o deputado também é acusado de discriminação de gênero, machismo e misoginia, violando os princípios da dignidade da pessoa humana e desigualdade. O documento ressalta que não é a primeira vez que Wladimir teve conduta parecida e que ele é conhecido por sua forma agressiva, sendo violento até com colegas parlamentares. Também foi citado o caso em que ele trocou mensagens inapropriadas durante sessão do plenário.
A ocasião em que o deputado Jair Bolsonaro afirmou que não estupraria a deputada Maria do Rosário porque ela não merecia também consta no texto, para exemplificar atitudes corretivas tomadas, que levaram Bolsonaro a ser réu do Supremo Tribunal Federal. O partido ainda reclama da passividade do Conselho em relação ao caso e exaltou a atuação do STF em discutir e punir atos de violência contra a mulher.
A redação ainda conta com notas de repúdio de entidades da imprensa que se pronunciaram como o caso, tais como o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Também é citada uma postagem feita pelo parlamentar em uma rede social na qual ele profere “uma sucessão de frases desrespeitosas, com o nítido propósito de diminuir a figura da sra. Basília enquanto jornalista e mulher”, como define o texto. Publicações de meios de comunicação relatando o caso, incluindo reportagem do GLOBO, também constam no documento.
O GLOBO tentou contato com Wladimir Costa, mas a ligação caiu na caixa postal.
Na terça-feira, Júlio Delgado disse que não acha que a punição deve ser a cassação do mandato de Wladimir. Na visão do deputado do PSDB, o colega deve ser advertido e sofrer sanções previstas no Código de Ética da Câmara.
Procurado na ocasião, Wladimir Costa afirmou, por meio de sua assessoria, estar “muito tranquilo e pronto para responder, porque a consciência está tranquila em relação a esta acusação, uma vez que em nenhum momento agiu com uma conduta inapropriada com a jornalista”. Ao portal Poder360, ele havia argumentado que ofereceu mostrar o corpo todo por ter seis tatuagens, o que não significaria que estaria nu.
“Isso aí (acusações de assédio sexual) virou moda agora, eu não tenho medo disso aí”, completou em nota ao site.
Júlio Delgado criticou o comportamento de Wladimir, não apenas no episódio de assédio. Ele disse que o colega é violento e se dirige de forma agressiva a várias pessoas, incluindo deputados. Ele também defendeu que os jornalistas e demais profissionais sejam tratados com respeito no exercício de suas profissões.
— Essa não é uma postura adequada para um deputado. A forma como ele trabalha é equivocada e tem grande rejeição da população. A conduta dele fere a ética e o decoro parlamentar quando agride a sociedade. Ele precisa ser advertido, não pode tratar assim pessoas que estão fazendo o trabalho delas — destacou o parlamentar.
(*Estagiária sob supervisão de Paulo Celso Pereira)
Autor: Da redação com Júlia Cople / Tatyane Mendes/Foto: Reprodução/PMDB e Reprodução/TV Câmara