O Brasil e a humanidade devem lamentar a morte de um homem honesto e corajoso que não teve medo de contrariar ninguém, nem gregos nem troianos, ainda que tenha sido acusado de postergar decisões contra Eduardo Cunha.
A morte do ministro do Supremo Teori Zavascki ocorrida na quinta-feira (19/01), em virtude da queda do avião em que ele estava, ganhou contornos de novela depois que autoridades e familiares suspeitaram das circunstâncias do “acidente”. Por isso a principal pergunta que se faz nas redes sociais é ‘quem matou Teori Zavascki?’.
A cúpula peemedebista é toda citada na delação da Odebrecht, que não abre mão de continuar influenciando no Senado e na República. Por isso a teoria da conspiração ganha força.
O diabo é que o substituto de Teori Zavascki será escolhido justamente pelos investigados que querem parar a Lava Jato. A começar pelo ilegítimo Michel Temer (PMDB), que tem a prerrogativa de indicar o próximo ministro do Supremo; depois será a vez da sabatina do Senado “sequestrado” pela gangue de Renan Calheiros (PMDB-AL), o Justiça, e Eunício Oliveira (PMDB-CE).
A cúpula peemedebista é toda citada na delação da Odebrecht, que não abre mão de continuar influenciando no Senado e na República. Por isso a teoria da conspiração ganha força.
Enquanto o Brasil discute se foi ‘acidente ou assassinato’ a Lava Jato continuará parada em virtude do desaparecimento do magistrado.
Enfim, quem matou o ministro Teori Zavascki? Foi acidente ou assassinato?
O avião
O avião no qual Teori foi acidentado era um Hawker Beechcraft King Air C90 prefixo PR-SOM pertencente o grupo Emiliano Empreendimentos.
Trata-se de um excelente avião. É o único bimotor pequeno que o serviço secreto norte-americano autoriza o presidente dos Estados Unidos a usar. E é muito improvável que um ministro do STF se metesse em um avião em condições duvidosas de manutenção.
Teori Zavascki foi vítima da atmosfera do golpe. Num dia o chamaram de petista, no outro se atrevem a dizer que o PT o matou.
Há menos de um ano, quando o ministro Teori Zavascki determinou que o juiz Sérgio Moro enviasse ao STF as investigações envolvendo o ex-presidente Lula, uma claque denominada La Banda Loka Liberal (ligada ao MBL – Movimento Brasil Livre) foi até o condomínio onde vivia o ministro, em suas passagens por Porto Alegre, chamá-lo de traidor e erguer cartazes com frases como “Teori traidor” e “Teori Zavascki pelego do PT”.
Elogiado em condolências após a morte, Teori Zavascki foi personagem principal de uma manifestação organizada pelo MBL em março de 2016, na Avenida Paulista. O boneco tinha três cabeças (Lula, Teori e Dilma) e foi apelidado de “Teoridra” ou “Teoreco”. A iniciativa também se contrapunha à decisão do ministro de determinar o envio das investigações sobre Lula ao STF.
Na manhã de quarta (23 de março de 2016), o MBL divulgou os contatos do ministro no Supremo, como telefone e e-mail, e divulgou a hashtag #OcupaSTF. Em outra postagem, o movimento chamou o ministro de “petralha”: “Brasileiros e Brasileiras, acabou, o golpe foi dado! #TeoriPetralha manda investigação ao STF, isso ñ vai prosperar! Vamos #OcupaSTF e fim!”.
O músico Lobão também divulgou o endereço da casa do filho do ministro em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde ocorreu manifestação com faixas em defesa do juiz Sérgio Moro. Abaixo a imagem da publicação no Twitter que não deixa dúvidas do quanto estes grupos fascistoides utilizaram as suas claques para coagir e acossar inclusive ministros da Suprema Corte.
MPF abre inquérito para investigar acidente que matou Teori Zavascki
Polícia Federal também vai investigar o acidente, o inquérito está sob a responsabilidade do delegado chefe da PF em Angra, Adriano Antonio Soares.
Entendam
Zavascki era o relatar da Lava Jato no STF. Decidia quem seria investigado ou não. Processado ou não. Condenava, absolvia, ainda que sujeito a ter suas decisões alteradas pelo colegiado. Porém, sem andamento de Teori, nada andava para políticos com foro privilegiado.
Antes que algum espertinho tente vender a tese de que o PT está por trás de tudo isso, é bom que saibam que Lula não tem foro privilegiado e, assim, não seria julgado pelo STF antes de passar por pelo menos duas instâncias da Justiça comum.
Na verdade, os investigados pela Lava Jato que estavam ameaçados pelo STF são justamente os que têm mandatos e ou cargos públicos importantes, como deputados, senadores, presidente da República e ministros de Estado.
Teori estava para homologar dezenas e dezenas de acordos de delação premiada de funcionários da Odebrecht contra alvos que até aqui não vinham sendo incomodados. Os nomes de tucanos graúdos apareceram justamente nas delações da Odebrecht, mas o principal nome envolvido nas delações que Teori iria analisar é o do presidente da República.
O nome do presidente Michel Temer aparece 43 vezes no documento do acordo de delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, é mencionado 45 vezes e Moreira Franco, secretário de Parceria e Investimentos do governo Temer, 34.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima, que pediu demissão recentemente, surge em 67 trechos.
O líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), apontado como o “homem de frente” das negociações da empreiteira no Congresso, tem 105 menções no relato, um arquivo preliminar, ao qual a Folha teve acesso, do que o ex-executivo vai dizer em depoimento às autoridades da Lava Jato.
De acordo com Melo Filho, o presidente Temer atua de forma “indireta” na arrecadação financeira do PMDB, mas teve papel “relevante” em 2014, quando, segundo ele, pediu R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht para a campanha eleitoral durante jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014.
Segundo o delator, Temer incumbiu Padilha de operacionalizar pagamentos de campanha. O ministro, diz o ex-executivo, cuidou da distribuição de R$ 4 milhões daqueles R$ 10 milhões: “Foi ele o representante escolhido por Michel Temer –fato que demonstrava a confiança entre os dois–, que recebeu e endereçou os pagamentos realizados a pretexto de campanha solicitadas por Michel Temer. Este fato deixa claro seu peso político, principalmente quando observado pela ótica do valor do pagamento realizado, na ordem de R$ 4 milhões”.
“Chegamos no Palácio do Jaburu e fomos recebidos por Eliseu Padilha. Como Michel Temer ainda não tinha chegado, ficamos conversando amenidades em uma sala à direita de quem entra na residência pela entrada principal. Acredito que esta sala é uma biblioteca”, disse o delator, que conta detalhes do jantar.
“Após a chegada de Michel Temer, sentamos na varanda em cadeiras de couro preto, com estrutura de alumínio. No jantar, acredito que considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o Vice-Presidente da República como presidente do referido partido político, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10 milhões”, diz.
“Claramente, o local escolhido para a reunião foi uma opção simbólica voltada a dar mais peso ao pedido de repasse financeiro que foi feito naquela ocasião. Inclusive, houve troca de e-mails nos quais Marcelo se referiu à ajuda definida no jantar, fazendo referência a Temer como ‘MT’”, ressalta o ex-executivo da Odebrecht.
Um dos endereços de entrega foi o escritório de advocacia de José Yunes, atual assessor especial da Presidência da República.
Segundo o delator, “o atual presidente da República também utilizava seus prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso dos pagamentos que participei, operacionalizado via Eliseu Padilha”.
O delator disse que foi apresentado a Temer por Geddel em agosto de 2005 na festa de aniversário de seu pai.
Ao se referir ao ministro Padilha, ele afirma que o hoje ministro “atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome”, disse Melo Filho.
“Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos”, afirmou.
A relação entre os quatro caciques peemedebistas é muito forte, segundo o delator, “o que confere peso aos pedidos formulados por eles (ministros), pois se sabe que o pleito solicitado em contrapartida (pela empresa) será atendido também por Michel Temer”.
“Geddel Vieira Lima também possui influência dentro do grupo, interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca de pagamentos”, disse o delator.
Melo Filho afirmou que defendia “vigorosamente” as solicitações de pagamento feitas por Geddel junto à Odebrecht “como retribuição” pelo fato de o ex-ministro lhe aproximar das outras lideranças.
Sobre Jucá, ele declarou que um “exemplo” da força dele é “encontrado no fato de que o gabinete do Senador sempre foi concorrido e frequentado por agentes privados interessados na sua atuação estratégica”.
Todos os citados têm negado qualquer irregularidade na relação com a Odebrecht.
POLÍTICOS NA MIRA DA ODEBRECHT
Alguns dos citados em delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-executivo da empreiteira
MICHEL TEMER Ex-executivo disse que parte de valor prometido ao PMDB em 2014 foi entregue em dinheiro no escritório de José Yunes, amigo do presidente
RENAN CALHEIROS (PMDB-AL) O presidente do Senado recebeu o apelido de ‘Justiça’ na lista de codinomes da empreiteira
RODRIGO MAIA (DEM-RJ) Presidente da Câmara dos Deputados teria recebido R$ 100 mil; seu codinome era ‘Botafogo’
ELISEU PADILHA (PMDB-RS) O ministro-chefe da Casa Civil de Michel Temer seria o ‘Primo’ na lista da empreiteira baiana
MOREIRA FRANCO (PMDB-RJ) Secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, seria o ‘Angorá’ das planilhas
ROMERO JUCÁ (PMDB-RR) Senador e ex-ministro, seria o ‘Caju’
EUNÍCIO OLIVEIRA (PMDB-CE) Senador, apelidado de ‘Índio’
GEDDEL VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Ex-ministro da Secretaria de Governo, apelidado de ‘Babel’
EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ) Ex-presidente da Câmara e ex-deputado, seria ‘Caranguejo’
JAQUES WAGNER (PT-BA) Ex-ministro-chefe da Casa Civil de Dilma, seria o ‘Polo’*
DELCÍDIO DO AMARAL (ex-PT-MS) O ex-senador aparecia nas planilhas como ‘Ferrari’
INALDO LEITÃO (PB) Ex-deputado, o ‘Todo Feio’ teria recebido R$ 100 mil
AGRIPINO MAIA (DEM-RN) Empresa teria destinado ao senador R$ 1 milhão
DUARTE NOGUEIRA (PSDB-SP) ‘Corredor’ aparece como beneficiário de R$ 350 mil
LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Deputado, seria o ‘Bitelo’
FRANCISCO DORNELLES (PP-RJ) Vice-governador do Rio, seria o ‘Velhinho’ nas planilhas
ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB) Prefeito de Manaus teria recebido R$ 300 mil
CIRO NOGUEIRA (PP-PI) Senador seria o ‘Cerrado’
HERÁCLITO FORTES (PSB-PI) Deputado, seria o ‘Boca Mole’ e teria recebido R$ 200 mil
GIM ARGELLO (DF) Ex-senador é o ‘Campari’; teria faturado R$ 1,5 mi
PAES LANDIM (PTB-PI) Deputado, seria o ‘Decrépito’, teria levado R$ 100 mil
ANDERSON DORNELLES Ex-braço direito de Dilma, seria o ‘Las Vegas’
LÍDICE DA MATA (PSB-BA) Senadora, seria a ‘Feia’; teria recebido R$ 200 mil
JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA) Deputado teria recebido R$ 300 mil e seria o ‘Missa’
Agora adivinhe, leitor, quem vai tomar o lugar do falecido Teori. Um novo ministro do STF, indicado pelo presidente da República, Michel Temer.
Autor: Da redação com agência de noticias/Fotos: divulgação