É preciso dar atenção ao peso das mochilas na volta às aulas

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Para não prejudicar a saúde, carga deve ser de até 10% do peso corporal do estudante

O uso incorreto de mochilas e o peso excessivo do material escolar carregado dentro delas podem gerar dores e posturas erradas. Entretanto, segundo especialistas, não há provas de que o acessório cause problemas de coluna, como escoliose, lordose, cifose e doença de Scheuermann (a famosa corcunda). ‘Algumas pessoas tentam associar o peso das mochilas com o aparecimento de algum tipo de deformidade, mas isso nunca foi comprovado pela medicina. Seria preciso analisar muitas crianças, por muito tempo, para perceber o aparecimento desse tipo de alteração e por isso é difícil comprovar’, afirma o ortopedista Ivan Dias da Rocha, cirurgião de coluna do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Mesmo assim, é preciso observar o uso correto, principalmente, se a criança tem propensão a desenvolver algum problema de coluna. ‘Essas deformidades vertebrais podem ser congênitas e são agravadas em quem não usa a mochila da maneira certa e tem tendência a desenvolvê-las’, diz Eduardo Takimoto, ortopedista pediátrico da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para saber se a criança está sujeita a problemas de coluna no futuro, é preciso observar se há alguém na família que desenvolveu alguma questão (principalmente pai e mãe) e procurar um ortopedista para fazer uma avaliação aprofundada. ‘Quanto mais precoce é o diagnóstico, mais sucesso o tratamento terá’, fala Takimoto.

Vilãs – Livrá-la do peso de ser a causadora de problemas graves de coluna não alivia o estigma de vilã que ela carrega: crianças que usam mochilas de maneira incorreta podem sentir dores e ter suas posturas afetadas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a tendência é que, nos próximos anos, 85% das pessoas do planeta sintam dor nas costas, pelo menos, uma vez na vida. E uma das causas do desconforto, principalmente em crianças, é o uso incorreto e o peso das mochilas. ‘Associado ao grande grau de sedentarismo das crianças, o mau uso das mochilas gera dores musculares nos ombros, no pescoço, nas costas e nos braços’, diz Daniel Carmago Pimentel, fisiatra intervencionista e diretor do Spine Center do Hospital do Coração, em São Paulo.

‘Na maioria das vezes, a criança usa a mochila de forma errada e não sente nada. Só que ela pode vir a sentir dores no futuro, quando estiver na adolescência, ou na idade adulta. É raro uma criança sentir dor lombar. Quando isso acontece, é preciso investigar com ajuda de um especialista’, fala o ortopedista do Hospital das Clínicas.

Quem pendura a mochila só em um ombro, por exemplo, pode ter dores e ter a postura comprometida. ‘Se a criança fica torta, curvada para frente ou para o lado, ela pode vir a sentir dor no futuro. Para que isso não ocorra, basta corrigir a má postura, e uma das maneiras é passar a usar a mochila corretamente’, fala Takimoto.

Há o Jeito certo de carregar a bolsa

Para que o acessório não comprometa a postura e não provoque dores, é preciso observar seu bom uso. ‘Tiras estreitas causam compressão no ombro e restringem a circulação do sangue. Isso pode gerar quadros de dor muscular com o passar do tempo. O ideal é usar mochilas com alças largas, acolchoadas. Também é necessário usar as duas alças de ombros da mochila. Pendurando uma só ou as duas em apenas um ombro, você desloca todo o peso para apenas um lado de seu corpo’, diz Daniel Carmago Pimentel.

‘Além de duas alças nos ombros, o modelo ideal é aquele que vem uma alça ajustável na cintura, que prende mais a mochila às costas’, afirma Dias da Rocha. Observar o tamanho da mochila em relação à altura da criança é fundamental. ‘O ideal é que ela seja um pouco menor do que as costas da criança, que fique três dedos acima da linha da cintura e esteja sempre encostada no corpo’, afirma Pimentel.

Se peso for necessário, deve-se optar por opções com rodinhas

Segundo os dois ortopedistas e o fisiatra, estudos realizados em várias instituições pelo mundo apontam que mochilas não devem ter mais do que 10% do peso corporal da criança. ‘Se for necessário carregar mais do que isso, uma dica é usar a mochila de rodinha’, diz Pimentel. ‘Apesar de não ser muito prática – crianças pequenas não conseguem puxá-las direito, e elas viram um estorvo em escolas com escadarias e terrenos irregulares – , usar a mochila com rodinhas é uma prática saudável e uma saída para uma criança ou um adolescente que já tem problema na coluna’, diz Takimoto.

Pimentel propõe levar a criança para comprar a mochila de rodinhas e observar a sua postura. ‘A criança deve puxar a mochila para saber se a alça não vai ficar nem muito alta nem muito baixa. Quando puxar, a mão deve ficar paralela ao corpo e o ombro reto. A mão que fica livre não pode ficar à frente da linha do corpo’.

Se o peso não é maior do que 10%, não há problemas em usar a mochila tradicional. E vale prestar atenção à maneira que a criança dispõe o material escolar dentro dela. Isso afeta a distribuição de peso. ‘Minha dica é colocar as coisas mais pesadas mais perto das costas da criança, e as coisas mais leves entram depois’, diz Pimentel. ‘Quando o peso fica mais perto do zíper, a mochila puxa a criança para trás e força a musculatura da coluna’, fala o fisiatra.

Fonte: Amazônia