Cidade teve blocos para todos os gostos
Quanto riso, quanta alegria, palhaços, arlequins, colombinas ou a fantasia que cada um quisesse. O último domingo antes do carnaval teve uma multidão de aproximadamente 800 mil pessoas nas ruas, com foliões cheios de criatividade, muitos a caráter para a festa. Aberto à diversidade, o dia foi de desfiles para todos os gostos: da mistura de ritmos do Bloco da Preta ao samba de raiz do Timoneiros da Viola; do clima família do Suvaco do Cristo aos beijos mil do Chora Me Liga. No Cordão do Boitatá e no Escravos da Mauá, o colorido vibrante deu o tom. O Fogo e Paixão foi uma louvação ao brega. A turma fashion se encontrou no Meu Glorioso São Cristóvão, teve brincadeira para os pequenos no Gigantes da Lira e sobrou animação até para a cachorrada, no BloCão.
— Meus pais contam que eu queria ser chacrete desde os 5 anos. Não deixei de ser. Sou a pretete — brincou ela, que durante a apresentação, deu um beijo na boca da atriz Carolina Dieckmann, em defesa do respeito às diferenças.
Com foliões cativos, o bloco atraiu gente que não mede esforços para acompanhar a cantora. Caso do administrador Felisberto Soares, morador de Jacarepaguá que dormiu na casa do tio, em Copacabana, só para chegar cedo e garantir uma vaga pertinho do trio elétrico.
— Gosto muito, e o principal motivo é a inclusão de todo mundo, a felicidade do bloco — afirmou ele.
O SUCESSO DAS ‘BEYONCÉS’
No total, foram 47 blocos só ontem — 112 em todo o fim de semana. Outro dos gigantes do carnaval, o Chora Me Liga atraiu 200 mil pessoas. No Suvaco do Cristo, 15 mil foliões tomaram o Jardim Botânico, mas foi mantido o clima de festa de vizinhos, atraindo muitas famílias e crianças. A irreverência, marca do bloco, deu as caras mais uma vez. Pulando carnaval, viu-se de tudo, até um grupo de figurinhas carimbadas do Suvaco satirizando a famosa foto da cantora Beyoncé exibindo sua gravidez.
— Vimos que essa era a foto mais curtida da história do Instagram e decidimos reproduzir aqui — contou Bernardo Afonso, um dos adeptos da fantasia, vista aos montes nos blocos de ontem.
Já Rosa Maria Hora usou a folia para uma mensagem política. Com nove amigas, ela desfilou defendendo o projeto de lei Dez Medidas Contra a Corrupção, promovido pelo Ministério Público Federal.
— Cada uma de nós exibe uma das medidas — disse Rosa, citando a recuperação do lucro derivado do crime e o classificação de crime hediondo para o desvio de altos valores, entre outras.
Logo na concentração, por volta das 9h, era possível ver muitas crianças prontas para cair na folia. Um dos destaques foi o pequeno Heitor, de 4 anos. Cadeirante, ele foi fantasiado como Tom, a mascote da Paralimpíada do Rio. Segundo sua mãe, Renata Lopes, o menino sempre frequentou blocos.
— A primeira vez que ele veio no Suvaco ainda era bebê. Vamos a todo tipo de evento com ele — contou ela.
Apesar da grande quantidade de pessoas, não houve registro de brigas e fiscais da prefeitura quase não aplicaram multas por xixi na rua. Os banheiros químicos ao longo da Rua Jardim Botânico deram conta da demanda, e tiveram poucas filas durante todo o dia.
O largo do brega
Não houve problemas também no Fogo e Paixão, no Largo de São Francisco, no Centro. Embalados por hits da música brega, milhares de foliões enfrentaram o sol forte e mantiveram a tradição das fantasias relacionadas ao desfile.
Na onda brega, apesar de separados na vida real, a cantora Joelma e o guitarrista Chimbinha ainda estão juntos e felizes na folia. É o que mostraram Bárbara Ribeiro e Henrique Alves, que encarnaram, com visual extravagante, o ex-casal.
Matheus VK, um dos vocalistas do bloco, festejou o momento. Segundo ele, apesar do pouco espaço, o Largo de São Francisco ajuda a criar um clima positivo para o bloco:
— Chegamos à lotação máxima do largo, mas queremos continuar aqui por muitos carnavais porque o local cria um clima quase íntimo.
Já no Meu Glorioso São Cristóvão, bloco criado por uma grife com sede no bairro, muitos foliões ousaram e criaram fantasias com um recado específico: a necessidade de se proteger do calor e dos raios solares. A estilista Alessandra Galdino, por exemplo, foi fantasiada de chuva.
— A ideia principal é me proteger dos raios solares — disse ela, que adaptou um guarda-chuva com espumas brancas, como se fosse uma nuvem.
Autor: Da redação com O Globo/Foto: Alexandre Vidal / Divulgação Riotur