Saldar dívidas atrasadas ou amortizar parcelas estão entre as opções
A viagem de férias está garantida para boa parte dos 23 mil contribuintes da Receita Federal (RFB) no Pará que receberam, na semana passada, a restituição do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF). Ao todo, R$ 46 milhões foram injetados na economia paraense. Em pleno veraneio, o dinheiro será muito bem-vindo para os que planejam quebrar a rotina nas praias do Estado. Entretanto, este recurso pode ser aplicado de forma diferente, e gerar receita aos investidores, apontam especialistas em finanças pessoais.
Na avaliação dos economistas, antes de gastar o dinheiro extra, os contemplados pela RFB devem estabelecer prioridades, e avaliar o que é mais importante nesta etapa do ano. Saldar dívidas atrasadas ou amortizar parcelas vincendas, por exemplo, são alternativas que podem garantir a tranquilidade no futuro próximo.
Para o economista Nélio Bordalo, membro do Conselho Regional de Economia do Estado do Pará (Corecon-PA), uma saída é levantar o valor total das pendências financeiras – caso hajam -, e verificar se o valor da restituição é capaz de cobri-las. “A prioridade é quitar ou amortizar as dívidas mais caras, como por exemplo, às relativas ao cheque especial ou ao cartão de crédito, pois essas podem ter juros de até 11% ao mês”, informa.
Ele destaca que essa alternativa é interessante, porque saldar ou diminuir outras dívidas vai equilibrar o orçamento doméstico e permitir planos mais ousados no futuro. “Esse pode ser o começo de uma preparação para se financiar um carro no final do ano, com a chegada do décimo-terceiro salário, ou ainda evitar dívida com a escola dos filhos, o que impossibilita a matrícula do ano seguinte”, recomenda.
Bordalo ressalta que o mercado proporciona diversas tentações aos consumidores, o que pode servir de armadilha àqueles que não se planejam. “Para não ceder, o contribuinte deve evitar antecipar um valor significativo da restituição, pois, existe o risco da restituição ficar retida na malha fina da Receita Federal”, ensina.
Ele destaca que, caso o contribuinte tenha antecipado a restituição junto a um banco, e não venha a receber este valor até o último lote, a instituição financeira vai convocar o cliente para transformar a operação em um empréstimo convencional, com taxas de juros demasiadamente elevadas. “Ou seja, o que era para ser uma boa alternativa financeira, acaba gerando uma dívida inesperada”, comenta.
O economista diz que é comum e legal o serviço oferecido pelos bancos, de antecipar o valor da restituição. “Agora, é oportuno verificar a taxa de juros cobrados e a real necessidade de ter esse dinheiro antes, pois as taxas variam de 1,69% a 3,49% ao mês”, pontua.
Ele diz que a antecipação só se torna vantajosa se for para quitar ou diminuir uma dívida com taxas de juros mensais superiores às cobradas pela instituição financeira pela antecipação, como é o caso do cheque especial (variam de 1,79% a 10,73% ao mês), e do cartão de crédito, que gira em torno de 10,52% ao mês. “Caso o valor da restituição não seja considerável, seria importante formar ou reforçar um fundo para emergências, tais como aplicação na poupança ou em fundos de investimentos com taxa de administração inferior a 1% ao ano”, propõe.
Outra sugestão é utilizar o valor no final do ano, depois de aplicado, juntamente com o 13º salário, para compor às despesas extras de dezembro ou dos três primeiros meses do próximo ano. “Os consumidores acabam gastando mais no Natal, com a compra de presentes. Tem também o IPTU, a matrícula na escola e o material escolar. É preciso pensar nisso tudo”, recomenda.
RECOMENDAÇÕES
A analista de Recursos Humanos Elane Quadros, seguirá as recomendações do economista, já que ela foi uma das contempladas com o recebimento da restituição na semana passada. “Minha prioridade é deixar em dia as contas que vencem esse mês, tais como o colégio da minha filha, o plano de saúde, a condução escolar, a conta de telefone, de água e as despesas básicas mensais”, afirma.
A analista nunca fez a antecipação da restituição do Imposto de Renda junto às instituições financeiras, embora assuma se sentir tentada. “Não falta vontade, pois os bancos oferecem diversos serviços e planos aparentemente ótimos”, pondera.
Elane lembra que, como a sua restituição do IR ocorreu em julho, ou seja, no período de férias, a maior tentação é justamente a possibilidade de viajar com a filha, Maria Luiza, de 7 anos.
“Se eu tivesse me planejado, sem dúvida iria viajar, fazer compras, passear com a minha filha. Porém, esse ano vai ser diferente, a minha restituição do IR vai ser aplicada com juízo”, brinca.
Já a recepcionista Carla Adriana da Silva, de 22 anos, diz que a restituição do Imposto de Renda recebida por ela na semana passada será totalmente voltado para o consumo. “Eu estava me preparando para os últimos dias do verão, já que consegui uma folga só agora, e por isso aproveitei este recurso extra para comprar alguns itens que ainda me faltavam”, afirma.
Adriana não está comprometida com nenhuma parcela, e, por isso, decidiu investir no veraneio. “É claro que se houvesse alguma continha atrasada, este dinheiro teria o pagamento dela como destino. Também não faço planos maiores, já que a restituição não foi em um valor tão alto”, comenta. Pelo fato de morar com os pais, e não ter filhos, Adriana se sente à vontade para gastar a restituição com o consumo. “O verão é agora. O que vir depois, a gente pensa depois”, filosofa.