Conselho de psicologia critica discussão de ‘cura gay’

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O Conselho Federal de Psicologia e o governo reagiram nesta quinta-feira (2) à decisão do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) de colocar o chamado ‘projeto de cura gay’ em votação no plenário da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O Projeto de Decreto Legislativo 234/11, de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), anula parte do artigo 3º e todo o artigo 4º de uma resolução interna do conselho de psicologia de 1999. Esses trechos da resolução condenam a atuação de psicólogos na tentativa de ‘curar’ homossexuais. O projeto deve ser votado na semana que vem.

Os trechos da resolução aos quais se referem o projeto afirmam que ‘os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade’ e ‘não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica’. O projeto de Campos diz que a resolução do conselho de psicologia, ‘ao restringir o trabalho dos profissionais e o direito da pessoa de receber orientação profissional, por intermédio do questionado ato normativo, extrapolou o seu poder regulamentar’.

O conselho questionou o argumento de Campos ao dizer que os trechos da resolução qualificam a atuação do profissional e coíbem o surgimento das ‘terapias de reversão’, que propõem a cura da homossexualidade. ‘Essa resolução é um marco e representa um obstáculo concreto ao avanço das terapias de reversão’, disse a vice-presidente do conselho, Clara Goldman, para quem o tratamento ‘carece de justificativa científica e é eticamente inaceitável’. ‘Existem grupos que dizem que a orientação sexual pode ser revertida. Mas funcionam ao arrepio da resolução. No momento em que a resolução cair, não haverá mais obstáculos éticos e técnicos para o avanço dessas terapias e propostas de cura da homossexualidade.’

Para Gustavo Bernardes, coordenador-geral de Promoção dos Direitos da População LGBT, da Secretaria de Direitos Humanos, a supressão de trechos da resolução ‘abre espaço para a volta de uma questão que já está superada há muito tempo’, que seria o tratamento da homossexualidade como doença.

Bernardes questionou o que chama de ‘intromissão’ do Legislativo ‘numa questão que é de competência do CFP’ e disse discordar do argumento de Campos de que a resolução restringe a ação de psicólogos e o direito do paciente de receber orientação profissional. ‘Apoiamos um trabalho por parte do profissional de psicologia para que a pessoa aceite sua orientação sexual e a identidade de gênero e evite complicações, como os sofrimentos psíquicos’. Procurados, Feliciano e Campos não se manifestaram.

Da redação/foto ilustrada