Argentinos criam app para vigiar e denunciar alta de preços

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aplicativosGoverno fez acordo de controle de preços com redes de supermercados. Comportamento lembra ‘fiscais do Sarney’ da década de 80 no Brasil

Aplicativos para smartphones têm incentivado os argentinos a tornarem-se fiscais de preços nos supermercados enquanto fazem compras. Eles foram lançados após o governo da presidente Cristina Kirchner lançar um programa de congelamento de preços e convocar a população a denunciar os excessos para ajudar a aumentar os controles sobre a inflação.

Os softwares registram o código de barras dos produtos para saber se estão ou não incluídos no programa e comprovam se o preço ofertado pelo estabelecimento é o correto. O aplicativo permite, inclusive, fazer uma denúncia online contra o estabelecimento.

O aplicativo gratuito “Precios OK” é uma das sensações do momento, com downloads na Argentina que ultrapassaram o Candy Crush e o Instagram na loja do Android na última semana, destaca a agência AP.

Em janeiro, o governo argentino fechou um acordo com produtores e grandes redes de supermercados para evitar aumentos descontrolados de preços em bens e insumos. Chamado de “Preços Cuidados”, o programa inclui o controle de preços de mais de uma centena de produtos, como farinha, carne, verdura e pão, que devem manter o valor durante três meses.

A lista de produtos também está disponível em um site criado pelo governo, mas os aplicativos permitem saber os preços que deveriam ser mantidos no próprio estabelecimento.

O acordo de ‘Preços Cuidados’ vale por enquanto em grandes supermercados da capital argentina e da província de Buenos Aires, embora o governo negocie ampliá-lo a pequenos estabelecimentos e às demais províncias do país. Na semana passada, o chefe de gabinete argentino, Jorge Capitanich, ameaçou punir os supermercados que descumprirem o acordo.

Pelo efeito da desvalorização sofrida pelo peso nas últimas semanas, diversas redes limitaram a quantidade de unidades dos produtos estipulados ou eliminaram a possibilidade de incluí-los em promoções ou ofertas. Além disso, há desabastecimento de outros produtos da lista, destaca a agência Efe.

O comportamento dos consumidores na argentina lembra o dos chamados “fiscais do Sarney” no Brasil, lançado na década de 80 após o Plano Cruzado, que congelou preços e salários e substituiu a moeda corrente na ocasião, o cruzeiro, pelo cruzado.

Inflação em alta

A inflação em alta é a maior preocupação do momento no país. A forte desvalorização do peso nas últimas semanas levantou ainda mais dúvidas sobre a situação econômica da Argentina, que tem se agravado nos últimos meses com a redução drástica das reservas internacionais.

Dirigentes opositores e economistas exigiram nos últimos dias que o governo dê atenção ao controle da inflação, que segundo estimativas privadas poderia atingir e inclusive superar 30% em 2014.

Durante o ano passado, o governo argentino iniciou diversas iniciativas para deter a alta de preços, como o programa ‘Olhar para Cuidar’, no qual voluntários “monitoravam”‘ estabelecimentos para denunciar aumentos.

Em 2013, a inflação argentina foi de 10,9%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos, mas, de acordo com medições de consultoras privadas, chegou a 28,4%.