Em Iguatu mulheres fazem protestos contra a cultura do estupro e violência de gênero

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  “A nossa luta é por respeito, mulher não é só bunda e peito”.

O caso da garota vítima de estupro coletivo deixou o Brasil chocado e indignado. É por isso que  sábado (4), em Iguatu várias mulheres de movimentos sociais, coletivo, estudantil e sindicatos, se manifestaram no protesto Por Todas Elas, o intuito criado para lutar contra a cultura do estupro.

O protesto

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Um protesto contra o machismo e a cultura do estupro reuniu sábado (4), às 8h da manhã, na Praça da Caixa Econômica Federal, mulheres que saíram em caminhada exibido cartazes com dizeres como “estupro nunca mais” e palavra de ordem, pelo centro da cidade, o ato organizado por mulheres de várias vertentes do feminismo unidas para denunciar o machismo enraizado e cada vez mais fortificado em nosso cotidiano, onde vemos a indignação de homens com a organização feminina ao tentar “boicotar” a organização.

De acordo com Gracy Souza, “Cansamos, e cansamos principalmente de, depois de tudo, ainda sermos chamadas de loucas e histéricas quando denunciamos machismo. Cansadas de não poder sentir raiva sem ser chamada de sectária, ou “odiadora de homens”” explicou Gracy que acrescentou “O estupro vulnerável está provado. O que queremos agora é verificar a extensão desse estupro, quantas pessoas praticaram esse crime […] Houve estupro coletivo, mas não sei de quantas pessoas” destacou.

Para Hayanne Alves a luta é pelo respeito e pela justiça, “Estamos aqui para exigir políticas que acabem com a cultura do machismo e para que os agressores sejam de fato punidos” protestou Hayanne.

De acordo com Solange pereira “Vivemos em uma sociedade onde prevalece a cultura do estupro. Nenhum governo desenvolveu até agora medidas efetivas contra isso, e as mulheres vítimas de violência ficam muitas vezes desamparadas” disse.

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Casos   

 

 Na última quinta-feira (26/05), a Polícia Civil do Rio de Janeiro tomou depoimento da jovem de 16 anos que foi drogada e estuprada por 33 homens. O crime foi denunciado após um vídeo com imagens da adolescente desacordada e com órgãos genitais feridos e expostos ter sido postado na internet. Nas imagens, um homem diz que “uns 30 caras passaram por ela”. “Acordei com 33 caras em cima de mim. Só quero ir para a casa”, disse a jovem, ainda no hospital, de acordo com o jornal O Globo.

Em Bom Jesus, sul do Piauí, uma jovem de 17 anos foi violentada por cinco jovens, quatro deles menores de idade, na madrugada do último dia 20. Após uma briga com o namorado, a jovem teria ingerido bebida alcoólica e os suspeitos se aproveitaram da embriaguez para cometer o crime. Ela foi encontrada amarrada dentro de uma obra.

Precisamos:

1) Romper com esse imaginário caricato em torno do estupro e dos estupradores e entender que qualquer situação de redução do consentimento ou da capacidade de repelir já é crime e;

2) Deixar que mulheres conduzam as muitas instâncias dos debates sobre a cultura do estupro.

Irônicos

O rapaz responsável pelo vídeo sai da delegacia sorrindo e acenando enquanto a vítima se esconde, Alexandre Frota faz selfie com ministro, Collor tinha acusação de estupro contra uma menina de 7 anos e tornou-se presidente. Quantos mais? Quantos estão felizes, chegando ao poder, ditando o nosso futuro, sendo aclamados? É tudo tão óbvio e a gente precisa desenhar o absurdo.

Repúdio ao caso de estupro coletivo

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Não deveria interessar a ninguém saber quais são as preferências eróticas de uma mulher quando ela diz que foi abusada de qualquer maneira.

Mulheres de todos os perfis são vítimas de estupros, de bebês a idosas, pode não ter experiência sexual, ser compulsiva, romântica, fetichista, pode estar dentro de uma relação, ser paciente de saúde mental, usar drogas, ser religiosa, gostar de sexo grupal, ser poliamorista, ter qualquer profissão.

É uma vergonha, um total retrocesso o uso do conhecimento sobre a história e o comportamento sexual de uma pessoa para responsabilizá-la por um crime do qual ela foi vítima. Ao relativizar a palavra de qualquer vítima a partir da sua afetividade ou sexualidade, estamos favorecendo o surgimento de novas vítimas, porque fica mais fácil uma situação de estupro não se caracterizar como crime: “será que ela não quis mesmo? Até que ponto ela desejou isso?”.

Fica maior a certeza da impunidade e do descrédito da palavra feminina, tornando tudo mais fácil para o estuprador. Estamos fragilizando mais ainda mulheres que são exploradas sexualmente, por exemplo, desde meninas que são prostituídas aos 12 anos, passando por atrizes pornôs e mulheres sequestradas e traficadas para serem abusadas em outros países. Estamos fragilizando mais ainda mulheres que são abusadas por maridos, meninas que são abusadas por parentes, pacientes abusadas por médicos, ao dificultar a caracterização da violência. Isso não cria mais proteção para nenhuma de nós, nem para as crianças.

Estamos dizendo que com certas mulheres não acontece, criando um imaginário sobre a vítima de estupro caricato e engessado, quando a cultura desse crime é tão bem enraizada que a coisa mais fácil do mundo é violar o consentimento feminino ou infantil. E com isso estamos afirmando, inevitavelmente, que só determinados homens, em determinados contextos, são estupradores, deixando todos os demais livres para cometer novos crimes.

Autor: Rogério Ribeiro/Fotos: Divulgação