Negociação garante opcionais, melhor valor para usado e juros menores
Os preços subiram, é verdade. Mas há muito tempo os clientes não encontravam condições tão favoráveis para comprar um carro zero quilômetro. Segundo consultores e vendedores, hoje, quem dá as cartas nas negociações é o consumidor. Na moeda de troca estão opcionais, condições de financiamento, taxas de juros menores e uma melhor avaliação do carro usado dado como entrada de um novo. Nas concessionárias, é possível, com uma boa negociação, compensar todo o aumento nos preços dos carros este ano, que chega a 2,64% em alguns casos.
As vendas bateram recorde em janeiro e fevereiro, chegando a 570 mil veículos, alta de 4,6% frente ao primeiro bimestre de 2013. Mas o avanço veio graças a uma antecipação das compras — para aproveitar o estoque de carros com preço antigo, antes da recomposição do IPI e dos custos com a inclusão obrigatória de airbag e freio ABS — e ao calendário atípico de um fevereiro sem carnaval, que ampliou o número de dias úteis. Em março, mesmo descontando o carnaval, o ritmo de emplacamentos diários caiu de 14 mil para 12,5 mil. E, a partir de julho, o setor terá nova alta de IPI. A alíquota do imposto subiu em janeiro de 2% para 3% nos modelos 1.0 e vai a 7% em julho. Para modelos até 2.0 flex, o imposto passou de 7% para 9% e vai a 11% em julho. O IPI aumentou de 8% para 10% e vai 13% em julho nas versões a gasolina.
O diretor da Consultoria ADK, Paulo Roberto Garbosa, acredita que o momento é de pechincha. Bater perna entre diversas concessionárias faz diferença:
— Um dos maiores diferenciais é o valor de avaliação do usado dado como entrada. Isso pode anular todo o aumento recente de custos que, aos poucos, está sendo passado ao consumidor do carro zero — disse ele, lembrando que alguns descontos podem ser motivados por modelos que estão sendo modernizados, o que deve ser levado em conta pelos consumidores.
Letícia Costa, diretora de Pós-Graduação Lato Sensu do Insper e especialista em setor automotivo, lembra que todo o setor espera queda de vendas neste ano, de Copa e de eleições, que afetam o planejamento de consumidores e lojistas. Para ela, contudo, o setor terá outras dificuldades além da alta do IPI e do aumento casado pela inclusão do airbag e ABS e do aumento de produção com novas fábricas:
— Das compras deste ano, 84% são para trocas ou carro adicional, só 16% são consumidores comprando o primeiro carro. Em São Paulo, a penetração de veículos já está alta, já há carros em 60% dos lares — explica, acrescentando: — O mercado, assim, tende a se aquecer na categoria de seminovos. O consumidor busca opções mais em conta.
Flávio Meneghetti, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), confirma que o momento está melhor para os compradores. Para ele, o cenário impediu, inclusive, que todo o aumento de custo fosse repassado ao consumidor:
— Aumento de preço e custos, nunca é bom, sempre restringe o nosso mercado.
‘Concessionária correu atrás’
O representante comercial Edgard Campos Neto foi a uma concessionária na Tijuca com sua esposa, Ana Rosa, para fechar a compra de um Chevrolet Cobalt:
— Nos ofereceram aqui as melhores condições de financiamento. Encontramos muita diferença entre as concessionárias.
O médico Walmick Menezes e sua esposa, Maria Nogueira, fecharam a compra de um Ford Ecosport. Ele já vinham pesquisando informalmente há seis meses, desde que a concessionária em que compraram o veículo, em Botafogo, entrou em contato com o casal.
— Houve sim um aumento de preços, mas não sentimos muito. Não pesou tanto para nós, que estávamos dispostos a comprar. Fizemos a busca em outros lugares e contatamos quatro concessionárias, mas a negociação foi muito tranquila e a concessionária correu atrás.
André Armarolli, gerente da concessionária que vendeu o veículo a Walmick e Maria, conta a estratégia para vender:
— Com o baque de vendas do início do ano pelo IPI, estamos procurando oferecer cada vez mais condições. Atualmente, priorizamos a taxa zero e o pagamento melhor por avaliação do veículo do cliente.