Sem regulação, subcredenciadoras representam risco para setor de cartões.

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Empresas atuam como uma ponte para comércios menores

À espera de um marco regulatório, o setor de pagamentos móveis está vulnerável à atuação das subcredenciadoras que, segundo especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, representam um risco sistêmico para o segmento. Penduradas no guarda-chuva das credenciadoras de lojistas, como Cielo e Redecard, essas empresas atuam como uma ponte para comércios menores na captura de transações com cartões de crédito e débito.

Com faturamento na casa de centenas de milhões, o número de subadquirentes, também conhecidas como facilitadoras, cresceu nos últimos anos. Não há estatísticas oficiais do tamanho deste mercado, mas especialistas acreditam que a quantidade de players já passe dos 50. O fato de essas empresas existirem, segundo diretores de subadquirentes, é a necessidade de atender uma lacuna que as grandes credenciadoras não suprem seja pelo tamanho de determinados lojistas ou pelas exigências feitas no momento do credenciamento.

Ao se plugarem em subadquirentes, os comerciantes pagam, além da taxa cobrada pelas credenciadoras (MDR, na sigla em inglês), um pedágio para as empresas que fazem a ponte até companhias como Cielo e Redecard. Para receberem os valores capturados nas transações, o caminho percorrido é o mesmo só que no sentido inverso. E é aí que mora o principal problema. Isso porque as credenciadoras não enxergam os lojistas, mas sim as subcredenciadoras. Por isso, o pagamento é feito para essas empresas facilitadoras que, posteriormente, direcionam os recursos aos comércios parceiros.

‘Há um risco sistêmico importante na atuação das subadquirentes. Quando uma transação é aprovada, a credenciadora faz a liquidação do pagamento com o subadquirente e não com o lojista. Se esse facilitador quebra, os lojistas podem ficar sem receber’, raciocina um executivo do setor.

O fato de as subadquirentes não revelarem os comércios que estão plugados em suas plataformas também traz outros tipos de riscos para o mercado de cartões. Isso porque esses facilitadores, em alguns casos, se declaram como sites de comércio ao passo que na verdade são subcredenciadoras que congregam outros portais de vendas pela internet. Ao não informarem quem credenciam podem, inclusive, servir de ponte para comércios não aceitos nas regras exigidas pelas bandeiras, tais como casas de prostituição, pedofilia e até mesmo esquemas de lavagem de dinheiro.

‘A forma como a subcredenciadora atua hoje gera riscos que a indústria brasileira trabalhou muito para eliminar, investindo milhões na renovação do parque com máquinas (POS, na sigla em inglês) mais modernas, na colocação de chips nos plásticos e no sistema de garantias’, opina um executivo do mercado de cartões.

Cresce presença no mundo físico

Em sua maioria, as subcredenciadoras atuam no mundo online, pois no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, grande parte da indústria já utiliza cartões com chip e o aparelho plugado no celular para capturar transações, conhecido como device, aceita apenas plásticos com tarja. Neste caso, a operação se dá com um cartão não presente, ou seja, quando só é capturado o número do plástico e não tem a chancela da assinatura do cliente ou senha tal como ocorre nas compras pela internet.

‘Como na prática, o cartão não está aparecendo na transação, o chargeback (cancelamento da venda junto à administradora do cartão de crédito) é do lojista que, muitas vezes, não sabe disso’, observa um executivo do setor.

Ainda assim, conforme uma fonte, a atuação das facilitadoras no meio físico está crescendo porque essas empresas estão oferecendo uma alternativa para comércios que deram recebíveis como garantia em um empréstimo junto ao banco e, por isso, estão com seu fluxo comprometido, a chamada trava de domicílio. Na prática, algumas subcredenciadoras burlam o domicílio travado, conforme a mesma fonte, desviando os recursos para outra conta corrente.

Para Marcio Campos, CEO da subcredenciadora PagPop, a trava é uma questão discutível. ‘É uma decisão do lojista. Se tem cliente fazendo isso eu não sei. Isso não é ilícito. É uma movimentação diferente’, explica.

Fonte: Estadão Conteúdo