Reconstituição das mortes de Marielle e Anderson dura mais de cinco horas

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Na simulação, que contou com a participação de quatro testemunhas, tiros foram disparados.
O relógio marcava 2h50m quando o silêncio do bairro do Estácio, na Região Central do Rio, foi interrompido por uma rajada de disparos. O procedimento fazia parte da reconstituição dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes, que começou no fim da noite desta quinta-feira e terminou às 4h15m desta sexta-feira, num total de mais de cinco horas.

Parte importante da reconstituição, tiros foram efetuados seis vezes durante esta madrugada: além das 2h50m, o mesmo aconteceu às 3h10m, às 3h30m, às 3h48m, às 3h56m e às 4h03 — antes de cada sequência, o som semelhante a uma buzina ressoava para sinalizar os tiros que vinham a seguir.

Os disparos efetuados durante o trabalho dos agentes eram verdadeiros. O objetivo era que as testemunhas pudessem comparar o som dos tiros com os presenciado no dia dos assassinatos. Os agentes pretendiam confirmar se uma submetralhadora foi utilizada na execução.

Para a realização da reprodução simulada dos dois homicídios, além de agentes da Polícia Civil que conduziam o procedimento, foram mobilizados cerca de 200 homens do Exército e da Polícia Militar. Agentes da guarda municipal e da CET-Rio também estavam no local, já que vias no entorno do ponto onde foi realizada a reconstituição foram interditadas. Sacos pretos foram dispostos de modo a impedir a visão de pessoas não autorizadas. Grades removíveis e cones de sinalização foram colocados para reforçar a medida.

Os bloqueios só foram desfeitos após as 4h15, quando terminou a reconstituição. Na ação, foi utilizado um carro modelo Gol, de cor branca, com características semelhantes ao utilizado pelas vítimas no dia do crime, que ocorreu no último dia 14 de março. O automóvel, após a simulação, estampava marcas de disparos em suas janelas laterais. Sacos de areia, dispostos no local do trabalho dos agentes para absorver o projéteis, também foram retirados pelas equipes.
Nenhuma declaração foi dada à imprensa ao final da reconstituição. Antes da simulação começar, porém, o delegado Giniton Lages, titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DH), falou sobre o objetivo da polícia ao realizar o procedimento. Quatro testemunhas participaram da reconstituição.

— Nós não temos imagem do momento em que o crime ocorreu. Então, em investigações com esse problema, a reprodução simulada é uma ferramenta imprescindível. Nós contamos com as testemunhas presenciais. Elas foram localizadas e estão presentes no inquérito, já fazem parte do arcabouço probatório do inquérito. Essas testemunhas voltam ao cenário do crime e é importante, através das percepções auditivas e visuais delas, reconstruir toda a dinâmica do que aconteceu.


Após o término da reconstituição, os veículos utilizados e o material foram retirados do local e o tráfego foi totalmente liberado no bairro do Estácio. Os preparativos para a realização da reprodução começaram ainda na manhã desta quarta-feira.

AGENTES CONFUNDEM RAPAZ COM ENVOLVIDO NO CRIME

À procura de um homem identificado como Tiago Macaco, que a testemunha ouvida pelo GLOBO diz ter sido o encarregado de fazer o levantamento dos hábitos da vereadora Marielle Franco, a mando do ex-PM Orlando de Curicica, policiais civis invadiram e reviraram por engano, na noite de quarta-feira, a casa de um rapaz chamado Tiago do Nascimento, também conhecido como Tiago Macaco, no Rio.

Nascimento disse à TV Globo que não estava em casa quando os policiais apareceram. Ao chegar, já encontrou os armários revirados:

— Estava tudo no chão. Não entendi nada. Fui informado por um primo que uns policiais, de colete, entraram correndo procurando um tal de Tiago Macaco, que era meu apelido antigo. Eles reviraram gavetas, armários, e abriram a bolsa da minha irmã.

Tiago disse que deduziu que os policiais fossem da Divisão de Homicídios e foi para a delegacia.

— Quando cheguei, os agentes me levaram para a cela, mandaram eu tirar meu boné e minha bermuda, e me colocaram dentro da cela de sunga, dizendo que eu estava preso porque era o Tiago Macaco.

O rapaz passou cerca de 20 minutos preso, até os policiais se darem conta do engano. Um delegado pediu desculpas e mandou que ele fosse embora. Nesta quinta-feira, orientado pelo advogado Nilson Cardoso, Tiago decidiu levar o caso à Corregedoria da Polícia Civil, para que seja avaliada a conduta dos policiais, além dos procedimentos adotados na delegacia. Imagens de objetos revirados na casa de Tiago foram exibidas na TV. A Divisão de Homicídios negou que o rapaz tenha sido despido e colocado numa cela.

Autor; Da redação com Giselle Ouchana / Rafael Nascimento/Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo.