Medicamentos e apoio da família controlam esquizofrenia

921

92042475_14045_24924Carinho dos cuidadores é fundamental para que os sintomas desapareçam

O cineasta Eduardo Coutinho, de 80 anos, foi assassinado a facadas na manhã do dia 02 de fevereiro em sua casa, no Rio de Janeiro. Segundo a polícia, ele foi atacado pelo próprio filho, Daniel, de 41 anos, que tentou se suicidar após a agressão. Com duas facas de cozinha, ele atacou também a mãe, Maria das Dores, de 62 anos, internada em estado grave com duas facadas no peito e três na barriga.

Segundo amigos da família, Daniel tem esquizofrenia e faz uso de remédios controlados. De acordo com o delegado Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão de Homicídios, a mãe teria conseguido se desvencilhar de Daniel e, trancada em um dos cômodos, acionou o outro filho do casal, Pedro, promotor de Justiça em Petrópolis, na região serrana do Rio. Eduardo Coutinho filma desde 1966 e é conhecido por filmes como Cabra Marcado para Morrer, Edifício Master e Jogo de Cena.

Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (ABRE), em parceria com o Programa de Esquizofrenia da Unifesp (PROESQ), mostra como o apoio de pessoas próximas, além do tratamento eficiente, pode ajudar a controlar a doença e evitar recaídas. Para entender melhor esse impacto, os autores do estudo entrevistaram 60 pessoas que cuidavam de um parente (pai ou mãe na maioria dos casos) com a doença há mais de 10 anos. O estudo conclui que é possível ter uma vida normal sendo portador, desde que o tratamento seja eficaz e iniciado precocemente.

A dúvida que fica é se a doença poderia ter realmente deixado Daniel mais violento. Conversamos com especialistas no assunto que nos contaram um pouco mais sobre a doença e as possíveis relações com o caso.

Afinal, o que é esquizofrenia?

Esquizofrenia é uma síndrome que afeta o pensamento e a percepção do portador. O que o paciente sente ou pensa não condiz com a realidade ao qual ele está inserido. De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, membro da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (ABRE), os principais sintomas da doença são delírios e alucinações.

Entende-se por delírios os pensamentos desconexos e não correspondentes com a realidade – achar que está sendo perseguido por alienígenas, por exemplo. Já as alucinações são percepções de fato – sentir cheiros, gostos e até mesmo formas que não existem. Rodrigo conta que a esquizofrenia geralmente é diagnosticada depois que o paciente passa pelo chamado Episódio Psicótico Agudo. “A pessoa de repente começa a ter crenças estranhas, ouvir vozes, se isolar”, diz.

A psiquiatra Julieta Guevara afirma que as alterações que o portador de esquizofrenia tem em seu cérebro faz com que seus pensamentos fiquem lentos, desconexos, com formas e associações sem ligações entre as frases. Segundo Rodrigo Bressan, a prevenção é o melhor caminho para impedir as recaídas. “É preciso medicações cada vez mais eficazes somadas ao tratamento médico”, afirma.