Hepatite C: saiba como se prevenir do tipo mais grave

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hepatite cNo Brasil, cerca de 3 milhões de pessoas têm a doença e ainda não sabem

Em silêncio, um vírus tem se disseminado e já atinge mais de 170 milhões de pessoas no mundo inteiro. Sorrateiramente, ataca o fígado e depois de décadas de destruição quase imperceptível, o infectado desenvolve cirrose, câncer de fígado e muitos morrem. A epidemia tem nome e tipificação: hepatite C.

Apenas no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 3 milhões de pessoas têm a doença e ainda não sabem. Das que já receberam o diagnóstico, cerca de um milhão, apenas 20 mil já recebem tratamento, que é gratuito mas de difícil acesso.

Muitos pacientes precisam entrar na Justiça para conseguir os medicamentos e garantir a continuidade da entrega destes. Quando a hepatite C é detectada nos seus estágios iniciais, as chances de cura são maiores. Como a maioria só descobre o vírus quando o fígado está muito debilitado, em sua fase crônica, os remédios podem não fazer mais efeito e é necessário um transplante.

No Brasil, dentre os que não sabem que têm a doença, entre 1,5 e 2 milhões de pessoas têm a forma crônica e cerca de 20% deles vai desenvolver cirrose hepática.

A hepatite C é a forma mais grave da doença e, ao contrário do tipo B, não tem vacina. O melhor jeito de se prevenir é se informar e pedir ao médico o teste de sangue, Anti-HCV, que é feito também pelo Sistema Único de Saúde, o SUS.

Saber as formas de contágio também ajuda a se proteger. Então anote: pacientes que precisaram de transfusão de sangue antes de 1993, pacientes com HIV, usuários de drogas injetáveis e pessoas que tenham se cortado com algum objeto perfurocortante utilizado por outra pessoa, como alicates de manicure, por exemplo, precisam estar atentos.

Hoje, a transfusão de sangue é muito segura. Todo o material coletado passa por testes para detectar possíveis vírus que serão eliminados, mas até 1993 os testes não eram feitos e o vírus da hepatite C não era sequer conhecido. Com a segurança da modernidade, um dos fatores que tornou-se grande vilão na disseminação da tipo C é o alicate de unha, utilizado amplamente nos salões de beleza. O processo de esterilização precisa ser feito através do autoclave, aparelho usado por médicos e dentistas, e não apenas nos forninhos, que não são suficientes para matar o vírus.

Alguns salões de beleza já investem na esterilização dos alicates e compra de material descartável para as manicures e pedicures. É o caso do Fuzz Cabeleireiros e Estética, de Florianópolis. “O material de manicure e pedicure é utilizado apenas em uma cliente, não sendo reutilizado sem passar por um novo processo de esterilização. Utilizamos também um kit individual para pés e mãos, que possui luvas e sapatilhas com creme emoliente, palito e lixa descartáveis. Além disso, as profissionais do Fuzz recebem três doses da vacina contra outros tipos de hepatite para se protegerem”, afirma Aline Conterno, gerente do salão.

Para empresários e clientes, o investimento é mais do que lucrativo. “Nossa maior preocupação é com a qualidade dos serviços prestados aos nossos clientes. Investir em equipamentos de qualidade, como a autoclave, e adotar normativas de trabalho baseadas na conduta mais higiênica possível por parte dos profissionais é essencial para que o nível desejável de profissionalismo seja alcançado. A médio prazo, a relação custo-benefício – tendo em vista que prezamos pela saúde das nossas profissionais ao mesmo tempo em que conquistamos a confiança das nossas clientes – é imensurável”, completa Aline.

O pensamento é o mesmo na casa de Lúcia Souza, aposentada, moradora do Rio de Janeiro. Portadora de hepatite C, ela tem em casa todo o material para manicure separado, assim como suas duas filhas. A medida foi adotada desde cedo, quando Lúcia descobriu que era portadora do vírus, assim como o marido, que faleceu em 2008 vítima da doença.

“Não confio na esterelização dos salões mais baratos e como às vezes precisamos fazer a unha rapidinho em casa, o ideal é que cada uma tenha o seu alicate. Levo tudo meu pro salão: alicate, lixa, pau de laranjeira e até esmalte. A hepatite C é muito perigosa e as pessoas não têm noção do que é a doença ainda”, alerta ela, que está em tratamento e procura sempre alertar as amigas. “Falo pra todo mundo no salão, com a manicure, até com clientes que eu não conheço!”, completa.

O Ministério da Saúde divulgou um pacote de ações para ampliar a tratamento e distribuição dos medicamentos usados para a doença, como o interferon peguilado, que começa a ser usado este ano. Na prática, a medida permite mais agilidade para indicar o prolongamento de tratamento. No programa antigo, a extensão do uso do interferon só era garantida depois da aprovação do Comitê Estadual de Hepatites Virais. Agora, o médico que acompanha o paciente já pode prescrever a continuidade do tratamento, de acordo com os critérios estabelecidos no documento.