Estimulação da medula alivia sintomas do Mal de Parkinson

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mal de parkisonExperimento conduzido pelo brasileiro Miguel Nicolelis nos EUA pode resultar em terapia alternativa a drogas e métodos mais invasivos

Experimento conduzido pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis e sua equipe na Universidade Duke, nos EUA, em ratos mostrou que é possível aliviar os sintomas do mal de Parkinson a partir da estimulação da medula espinhal, método que pode se tornar uma alternativa ao tratamento padrão com a droga L-dopa e é menos invasivo que a única outra opção disponível, a estimulação profunda e direta do próprio cérebro. Doença neurodegenerativa que afeta cada vez mais pessoas no mundo devido principalmente à maior expectativa de vida e envelhecimento da população, o mal de Parkinson é caracterizado pela perda dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina, neurotransmissor ligado ao sistema de recompensa do cérebro e ao controle motor, o que faz com que suas vítimas sofram com rigidez e espasmos musculares.

De acordo com artigo sobre o experimento, publicado na edição desta semana do periódico “Nature Scientific Reports”, a estimulação de longo prazo da região dorsal da medula espinhal melhorou as capacidades motoras e reverteu a severa perda de peso dos animais, outro sintoma característico da doença. Além disso, o método ajudou a preservar os neurônios produtores de dopamina nas regiões do cérebro ligadas ao controle motor e cuja perda desencadeia o mal de Parkinson, sugerindo que ele também pode ser útil para frear seu avanço.

‘Encontrar novos tratamentos que abordem tanto os sintomas quanto a natureza progressiva do mal de Parkinson é uma grande prioridade’, diz Nicolelis. ‘Precisamos de opções que sejam seguras, acessíveis, efetivas e de longa duração, e a estimulação da medula espinhal tem o potencial de dar isso para as pessoas com Parkinson’.

No tratamento padrão do mal, a L-dopa substitui a dopamina que deixou de ser produzida pelos neurônios mortos. Mas embora a droga ajude a aliviar os sintomas de muitas pessoas, ele pode provocar fortes efeitos colaterais, além de perder eficácia com o tempo. Já a estimulação profunda do cérebro, a principal e mais recente terapia alternativa à medicação, só pode ser aplicada em menos de 5% dos pacientes.

‘Embora a estimulação profunda do cérebro possa ser muito bem-sucedida, o número de pacientes que podem tirar vantagem desta terapia é pequeno, em parte por causa da invasividade do procedimento’, explica Nicolelis.

Em 2009, Nicolelis e sua equipe já tinham informado em artigo na revista “Science” que desenvolveram um aparelho capaz de enviar sinais elétricos pela medula de roedores que quando implantado em animais com baixos níveis de dopamina para imitar os sintomas de Parkinson fez com que eles retomassem a atividade motora normal, mas os efeitos foram muito agudos. Desta vez, no entanto, eles limitaram a aplicação da estimulação a duas sessões semanais de 30 minutos cada, obtendo resultados positivos.

Atualmente, médicos já aplicam a estimulação dorsal para controlar os sintomas de pacientes com dores crônicas, em que eletrodos implantados na medula são conectados a um gerador portátil e enviam sinais elétricos que criam uma sensação que alivia a dor. A estimulação da medula também já foi testada em um pequeno número de humanos pacientes de Parkinson para restaurar suas funções motoras, mas ainda não se sabe por que e como ela funciona.

‘Ainda é um número limitado de casos, então estudos como o nosso são importantes para investigar a ciência básica por trás do tratamento e os potenciais mecanismos que o torna efetivo’, defende Nicolelis, que também pretende pesquisar o uso do método em outras doenças motoras.