Cirurgia para retirada do útero trata miomas e endometriose

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14283Histerectomia é cercada de tabus, mas existem alternativas para mulheres que decidirem não fazer a cirurgia

Se você ou alguma conhecida sua recebeu a indicação de fazer uma histerectomia, uma das primeiras atitudes é ir para a internet, no Google, digitar a palavra. Você encontrará mais de 400 mil referências em português e quatro milhões em inglês. Pronto: se esperava algo que ajudasse, provavelmente terá um pouco de dificuldade de entender o real significado deste termo e a abrangência da cirurgia. Se for perguntar para amigos ou parentes poderá ouvir absurdos, aumentando ainda mais as dúvidas e, por consequência, a insegurança.

Para entendermos a histerectomia, primeiro vamos falar um pouco deste incrível órgão ainda muito incompreendido, o útero, que ajudou a perpetuar nossa espécie no mundo. Só para se ter ideia, ele tem a capacidade de crescer mais de mil vezes durante a gravidez. Ele pesa por volta de 90 gramas e cabem no seu interior cerca de 5 ml de líquido, sendo que no final da gestação chega a pesar mais de 1kg, com capacidade de armazenar mais de cinco litros. Ele está fixo na altura do colo uterino fazendo saliência para a vagina (vide figura).

Toda esta capacidade de desenvolvimento e alguma alteração genética das suas células (que pode ser de característica familiar ou racial) é a causa do aparecimento dos miomas que são tumores benignos do tecido fibromuscular da parede do útero. Mais de 50% das mulheres na idade reprodutiva tem miomas, mas apenas 20% delas precisarão de algum tipo de tratamento. Os pólipos de endométrio (cavidade uterina), tão comuns quanto os miomas, seguem esta mesma teoria e também são causas de sangramento uterino abundante.

O útero está localizado entre a bexiga e o intestino e, por isso, as cirurgias podem levar a riscos de lesões destas estruturas, principalmente quando há doenças como miomas, endometriose, câncer e aderências que distorcem a anatomia da pelve. Calcula-se que ocorra de um a dois óbitos por 1.000 cirurgias.

Histerectomias são cirurgias para a retirada do útero. Após a apendicectomia (retirada do apêndice), é a segunda cirurgia mais realizada no mundo. Calcula-se que no Brasil cerca de 20 a 30% das mulheres serão submetidas a esta operação até a sexta década de vida, aproximadamente 200 mil casos por ano, sendo a região Sul com menor número (PROADESS até 2010), provavelmente pelas pacientes e médicos terem outras opções de tratamentos e menor incidência de câncer de colo uterino. Nos EUA, este número gira em torno de 600 mil por ano. As indicações médicas podem ser por vários motivos, sendo que as doenças benignas são responsáveis por 90% delas, como: miomas, prolapsos, sangramentos anormais e endometriose. No entanto, lesões pré-malignas e malignas (câncer) também podem ser responsáveis pela indicação de histerectomia.

Quanto à via de acesso para a retirada do órgão, podem ser feitas via abdominal com técnicas minimamente invasivas – a laparoscopia e a cirurgia robótica -, aberta com incisões parecidas com cesarianas, ou ainda por via vaginal, sem cicatriz no abdômen. A cirurgia pode ser total, com ou sem a remoção dos ovários e trompas, ou subtotal, preservando o colo uterino. Os trabalhos não mostram qualquer diferença para as pacientes que preservaram o colo quanto à estática (fixação) da vagina, alteração na micção, ou diferença durante a relação sexual. A preferência, porém, é por retirá-lo para evitar sangramentos ou risco de câncer, principalmente na população que não tem possibilidade de rastreamento adequado e quando há possibilidade cirúrgica.

A decisão de se fazer a histerectomia, tipo e via de acesso deve ser longamente discutida com o cirurgião, observando-se sempre a doença existente, riscos, benefícios e experiência do médico. Outras cirurgias podem ser necessárias associadas às histerectomias como: a correção de incontinência urinária, de prolapsos retais, correção de fístulas etc.

Existem inúmeras outras opções de tratamento para as doenças benignas possibilitando a preservação do órgão, principalmente em pacientes que ainda pretendem engravidar. Antes da decisão, deve-se avaliar alternativas como:

– Miomectomias, que consistem na retirada dos miomas; Embolização, que é a oclusão das artérias que irrigam os miomas, em geral com ótimos resultados; Histeroscopia, onde um aparelho com câmera entra através do colo na cavidade uterina, possibilitando a retirada de miomas, pólipos e do endométrio; Tratar as disfunções hormonais com uso de hormônios ou DIU medicado em casos de hiperplasias do endométrio, que é o crescimento do tecido que envolve a cavidade uterina; Uso de análogos, que são medicamentos que bloqueiam os ovários, mantendo a paciente em estado de ?menopausa? por um período até o tratamento definitivo (cirurgia, por exemplo); Hormônios para manter a paciente sem menstruar por tempo mais prolongado sem levar a um quadro de menopausa.

A conotação e o simbolismo do útero em relação a feminidade, maternidade, é muito forte. Apesar de não ser visível, e de se expressar em forma de sangramentos mensais por variações cíclicas hormonais, o útero pode ser um depositário de sonhos, expectativas e também de problemas emocionais não resolvidos. Basta lembrar que antigamente achavam que ele era a causa da histeria, em uma época em que todas as patologias desde convulsões, psicoses, neuroses tinham o mesmo diagnóstico.

Existem ainda hoje muitas crenças em torno da retirada do útero sem fundamentos como: engordar, sentir-se oca, perder a libido, perder o prazer na relação, perder a essência de mulher, que os homens não vão se interessar mais etc. Não bastasse o sofrimento da mulher que passa pela cirurgia, há também a violência psíquica, velada, muitas vezes mais dolorosas que as cicatrizes. Por isso, é preciso estar bem informada e fortalecida emocionalmente antes da cirurgia. Por isso, se possível, procure outras opiniões!